A Isabel Sofia Campelo, aluna da turma A do 9º ano, fez o favor de partilhar connosco uma pequena amostra da sua óptima veia literária, deixando-nos um texto para apreciarmos e reflectirmos seriamente sobre a influência que a opinião dos outros pode, ou não, exercer sobre os nossos comportamentos e as nossas atitudes. Façam o favor de apreciar...
Julgando o justo
Era uma vez uma menina de 10 anos, chamada Susana, que gostava muito de comer. Todos os dias, quando chegava a casa, era capaz de comer uns sete pães. A mãe olhava séria e dizia:
- Susana, não achas que andas a comer de mais?
- Não, mãe, é só hoje. Passei muita fome na escola e então, estou só a recuperar as minhas forças – respondeu Susana.
Na verdade, ela fartara-se de comer na escola. Comeu, comeu, a toda a hora e momento.
Passaram quatro anos da sua juventude e ela nunca mudou a sua alimentação. Agora Susana encontrava-se com um grande problema. Estava fora do peso normal, as pessoas comentavam, e a sua auto-estima era cada vez mais baixa. Mas o problema que mais a afectava era o facto de as pessoas comentarem:
- Já viste como está a Susana? Que horror! Está super gorda, que aberração!
- Sim já vi, e pelo andar da carruagem vai ficar cada vez pior.
- Sabias que todos os dias, ao lanche, ela vai à padaria e come três pastéis? Daqueles cobertos de creme e calorias.
- Sim, sim, sabia. Sabes que nesta vila tudo se sabe.
Farta destes comentários estúpidos, Susana decidira mudar e começara a comer menos. No dia seguinte, foi à padaria e já só quis apenas um pastel.
- Boa tarde – saudou Susana –, dê-me um pastel se faz favor.
- Só um?! – perguntou, admirada, a padeira - Desta vez vai comer pouco! A culpa é da sua mãe que quer que você faça dieta!
Susana apenas sorriu mas nada disse. Logo a seguir uma cliente comentou:
- Ela também não está magrinha, por isso pode muito bem começar a fazer uma dietazinha.
Embora Susana tivesse consciência disso, era muito difícil para ela ouvi-lo da boca das outras pessoas. Era muito humilhante quando isso acontecia, mas, por vezes, as pessoas estão tão preocupadas em falar da vida dos outros que nem se apercebem como isso as pode magoar.
Susana chegou a casa, foi para o seu quarto, e nem sequer quis jantar.
A mãe, preocupada, foi ao seu quarto e perguntou:
- O que se passa contigo Susana?!
- Nada mãe, não se passa nada.
- Não mintas Susana, embora eu às vezes esteja um bocadinho ausente na tua vida, quando estou presente, estou sempre muito atenta, e além disso sou tua mãe e conheço-te, melhor do que ninguém. Por isso, diz-me o que se passa.
Susana acabou por contar tudo o que se passava na sua cabeça.
- Estou farta que se metam na minha vida, que opinem sobre o meu físico, que falem de mim a toda a gente. Estou farta de ser gorda e de odiar o meu corpo, a minha vida já não faz sentido.
A mãe de Susana ficou sem reacção, triste por ver o estado da sua filha e, sem saber o que fazer, contratou uma psicóloga.
No dia a seguir, lá estava a psicóloga para a primeira sessão.
- Olá Susana, eu sou a tua psicóloga e estou aqui para te ajudar, mas para isso tenho de te pedir algumas coisas essenciais para o bom funcionamento destas sessões, entre as quais que me contes tudo, que sejas sempre sincera e muito clara. Eu só estou aqui para te ajudar por isso não pode haver segredos entre nós.
À primeira vista, Susana gostou da psicóloga e decidiu fazer o que ela lhe tinha pedido, contou-lhe tudo desde o princípio, sem segredos nem mentiras.
No fim, a psicóloga respondeu:
- Susana, a vida é muito curta e uma menina como tu, tão novinha, não pode ter toda essa má energia. Ambas sabemos que já excedeste o peso normal, mas eu também sei que para isso existe uma solução, é só preciso muito esforço e coragem da tua parte. Mas eu sei que tu vais conseguir, tu és forte. – disse a psicóloga.
A psicóloga falou com a mãe de Susana e disse-lhe que agora já não era com ela, o próximo passo era contratar uma nutricionista.
A mãe seguiu os conselhos da psicóloga e após muita procura, arranjou uma das melhores nutricionistas do país que lhe deu um plano de alimentação no qual era indicado o que ela podia comer ou não, e em que quantidade.
Susana seguiu à risca todas as recomendações da nutricionista e passados dois anos de muito esforço, encontrava-se na melhor forma possível.
Então, as pessoas que falavam mal dela, hoje, estão roídas de inveja, tentam fazer amizade e pedir desculpas. Mas Susana dispensa, recusa-se a fazer amizades com pessoas que a julgaram pelo seu estado físico.