Concurso da Fundação Calouste Gulbenkian - "Darwin regressa às Galápagos"

Resende, Dezembro de 2008
Mr Darwin,
Os meus pais e educadores sempre me ensinaram a lutar pelos sonhos, a vencer os obstáculos e a provar-me que sou capaz, não só de lutar como de os alcançar. Claro que o sonhar é relativo, assim como tudo na vida… Agora, surgiu esta oportunidade, de manter contacto com um mestre da ciência, da curiosidade e da descoberta e de partir com ele numa aventura científica.
Diz a sabedoria popular que “ a curiosidade matou o gato”, porém tem sido o carácter curioso o verdadeiro mapa da descoberta. E nesse campo pode dizer-se ou que eu teria um grande potencial suicida de fizesse parte da família dos Felídeos, ou então que poderia considerar-me uma pirata da ciência, considerando a mitologia de que os piratas possuem os mapas mais importantes.
A biologia e a geologia são as disciplinas que mais curiosidade me despertam, com sinceridade digo que não acho muita graça a decorar mecanismos e artimanhas do mundo natural, mas sim, é com agrado e interesse que procuro compreende-los. Vivo numa pequena vila em cuja paisagem o verde predomina. São os pássaros e os galos que com minha mãe me acordam. E é logo pelo amanhecer, que começam as perguntas, abro a janela e deparo-me com dois animais distintos a darem-me os bons dias. São distintos, o galo e o pássaro, porém ambos possuem semelhanças surgindo questões como: Porque possuem ambos asas, e no entanto o galo não voa?
Atenta e curiosa, desde pequena tento imaginar respostas às minhas perguntas, mesmo parecendo tontas para alguns. Aprendi que perguntar não só, não ofende como também não é sinónimo de ignorância. Se for o caso de me escolher como seu discípulo espero que não o torturar com perguntas que me levem a tentar compreender a sua teoria com mais profundidade.
O meu espírito é de viajante, não aprecio rotinas e gosto de mudanças, viajar, conhecer, explorar novos lugares e ambientes, aprender novas línguas e culturas. O sonho de dar uma volta ao mundo guardava-o para mais tarde, porém a oportunidade de embarcar nesta viagem torna-o bastante mais real. Afirmo isto pois, as Galápagos são uma maqueta dos diferentes meios presentes no nosso globo, com uma incrível historicidade e variedade de fauna e flora. Quem conhece este arquipélago consegue, fazer uma pequena visita ao “nosso pequeno mundo”e compreender a sua evolução. Para além disso, é possível encontrar nas diferentes ilhas as Tartarugas - das - Galápagos, que ainda existem desde que ocorreu a primeira visita a bordo do Beagle, em que foi possível analisar as diferenças das carapaças em conformidade com as alterações do meio.
Sou católica praticante e quando os meus educadores familiares e escolares me abordaram o assunto da evolução, falando sobre a sua teoria, nunca a considerei um obstáculo às minhas crenças e à minha fé. Isto, porque sempre considerei que o Livro do Génesis da Bíblia, aquando da passagem sobre a criação, se trata de uma metáfora, uma alegoria, em que Adão e Eva representam os primeiros Homens criados pelo Criador.
Penso, que em primeiro lugar é imprescindível explicar à comunidade que é crucial a distinção da ciência e da religião. É necessário explicar que o próprio Mr Darwin considera a hipótese da existência de um criador.
Já tive a oportunidade de discutir o assunto da evolução com representantes eclesiásticos de diferentes idades e é compreensível a divergência de opiniões em conformidade com a idade que implica uma diferente capacidade de adaptação à nova informação que provém da fonte científica…
Em segundo lugar, acho que era importante, nesta viagem, rever o passado. Fazer uma lista das espécies que encontrou na sua primeira exploração e tentar encontrar vestígios delas, ou de transformações, mutações que poderiam ter acompanhado toda a alteração do nosso planeta, pelo qual ainda tentamos lutar.
Foi com bastante interesse que analisei a sua pesquisa e argumentos que suportaram a tese e uma das coisas mais marcantes, na minha opinião, foi: “toda a parte de uma nova característica adquirida é colocada em prática e aperfeiçoada". Com base nesta sua citação, analisaríamos plantas e animais para salientar a ideia que as alterações morfológicas tendem a serem positivas como meio de lutar pela sobrevivência permanecendo a lei do mais forte.
É certo que estou numa competição com outros amantes da Natureza, que milhares de outros amadores estão neste momento a escrever-lhe com o mesmo intuito que eu, realizar o sonho de estar com o Doutor, partilhar a seu lado esta febre, esta vontade de ver ao vivo e a cores a mudança das nossas vidas, o nosso rumo, as nossas tendências, nossas e de toda a Vida que nos rodeia.
Só o facto de poder dizer a Mr Darwin como aprecio todo o seu trabalho, toda a sua perspicácia… De pôr a hipótese de poder partilhar toda esta vontade de conhecer, de descobrir, de aprender com um sábio, torna toda esta carta mais fonte de entusiasmo e de vontade de partir hoje mesmo nesta aventura!
Sempre foi alvo de fascínio da minha parte como todos nós somos tão diferentes, como se cruzaram raças e culturas, como o forte origina um mais forte e como o mais fraco tende a perder-se, sempre me fascinou a luta pela sobrevivência. Não possuo nenhum laboratório em casa, e não armazeno plantas e animais para investigação como o Doutor… Também não fui a Cambridge para aprender botânica mas sim, apenas para desenvolver o inglês… Mas, tenho esperança que tudo o que tenho aprendido seja para desenvolver ainda mais o conhecimento, porque nós seres Humanos temos mesmo necessidade de querer saber o porquê de tudo, de conseguir conquistar a novidade, o diferente, o saber.
Pedia-lhe que tomasse em atenção esta minha vontade de me tornar sua assistente, de aprender com vossa excelência toda essa sua capacidade de se interrogar, investigar e conseguir alcançar a descoberta.
Com os melhores cumprimentos,
Ana Carvalho
Posted on 2/17/2009 01:22:00 da tarde by D.on Eg@s and filed under | 0 Comments »

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